Sinto-me um livro fechado, repleto que palavras que ninguém quer ler. Guardo de mim um mundo inteiro que histórias que ninguém quer ouvir. Vivo uma vida inteira em segredo dentro de mim porque ninguém quer saber. Exponho trechos das minhas loucuras na esperança de que na confusão aglomerada alguém há de querer escutar as vozes do meu coração, as músicas da minha alma. Mas, lágrimas continuam caindo sem que ninguém as veja e mundos inteiros se criam e se extinguem dentro de mim sem que ninguém queira saber. Mesmo na solidão confinada dos meus sonhos e medos ainda sou infinita. Apenas me falta um observador. Apenas me falta um leitor assíduo, um parceiro na dor. O mundo está cheio demais de pessoas muito felizes e satisfeitas. Sei que um dia ela esteve aqui. E que ela nunca soube de mim. Se ela soubesse, talvez não teria feito o que fez. Todos sempre tapam os ouvidos, viram as costas, fingem não ouvir, pulam linhas sem ler, desviam o olhar. Mas, eu estou aqui. E eu li cada palavra e eu entendi cada detalhe. Agora é tarde. Ela nunca saberá. E eu nunca vou saber se um dia alguém vai ler minha alma sem pressa e entender cada canto. Prefiro pensar que talvez sim. Talvez aí esteja um bom leitor. Talvez encontre eu um bom leitor. Talvez eu não esteja aqui para ver. Queria que ele pudesse em ler agora. Mas, o leitor lê a hora que quer. Resta-me essa solidão e esperança eterna de que um dia um leitor chegará para montar meu quebra-cabeças desprezado e desvendar os códigos que deixo para trás.
03 de março de 2014
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